Os grampos de Robinho: o melhor dos gêneros true crime e big brother num podcast primoroso

Todos que acompanham o noticiário sabem que Robinho foi condenado na Itália a nove anos de prisão pelo estupro coletivo de uma jovem albanesa embriagada e indefesa em 2013. Ele e cinco amigos brasileiros abusaram da garota em uma casa noturna de Milão. Conversas sobre o caso, grampeadas pela Justiça italiana, foram peça-chave no processo. Os trechos usados na sentença condenatória vieram a público em 2020, levando o Santos a suspender o contrato com o jogador por pressão da torcida e dos patrocinadores. Mas até aí tínhamos apenas as declarações do jogador transcritas na sentença condenatória. O que o UOL Esporte Histórias apresenta nesta quarta temporada com exclusividade são os áudios, o viva voz, a entonação, a fala completa. É de cair o queixo. Não só pelo crime repulsivo, as expressões grosseiras, o desrespeito pela vítima, a estupidez dos envolvidos, mas pela sofisticação narrativa e sonora dos episódios. O podcast produzido, roteirizado e apresentado por Adriano Wilkson e Janaina Cesar é extremamente bem construído, da concepção à execução. Para além do bom jornalismo, há um domínio completo da linguagem sonora. Os podcasts narrativos brasileiros já não deixam mais nada a dever às melhores produções americanas nas quais se inspiraram.

Em “Os Grampos de Robinho”, o UOL Esporte Histórias articula dois gêneros extremamente populares, o True Crime e o Big Brother, construindo uma narrativa cronológica que surpreende a cada episódio com informações ainda mais espantosas ou perturbadoras. O ouvinte, aliás, é alertado desde o início para a linguagem obscena e depreciativa. Os áudios são duros, de embrulhar o estômago. Robinho tem sua intimidade exposta ao extremo. Foram cerca de dez horas de gravação anexadas ao processo. Escutas só são autorizadas quando não há outros meios de se obter provas de um crime. No caso, não havia. E quanto à divulgação no podcast? Janaina, repórter do UOL na Itália que obteve os áudios junto ao tribunal de Milão, diz que o trabalho é importante por colocar em discussão o machismo, a forma como homens ainda veem a mulher como objeto e não como ser humano. Difícil discordar. De tudo o que se ouve nas escutas, isso é o mais ofensivo.

Merece destaque nessa produção o trabalho de João Pedro Pinheiro, responsável pela trilha sonora original, desenho de som e montagem. Pinheiro é um jovem e talentoso jornalista que tem contribuído para o impacto sonoro das produções em áudio do UOL. A música, os efeitos sonoros e o som ambiente, quando bem utilizados, tornam a experiência auditiva ainda mais rica e sensível. O cinema sabe disso. O audiojornalismo está aprendendo.