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Pioneiros sem crenças limitantes

  • Márcia Detoni
  • 21 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

Crenças limitantes são visões distorcidas da realidade que tomamos como verdades absolutas. O mundo está cheio delas, as “verdades” que nos são ditas ao longo da vida, inclusive no mercado de trabalho. No Rádio há um rígido entendimento de que programa bom é o feito ao vivo, reportagem boa é a curta e bom locutor é aquele da voz vibrante. Qualquer coisa fora disso afasta o ouvinte e a publicidade.


Aí vem um carinha lá de Chicago, um tal de Ira Glass, e propõe o oposto disso para National Public Radio (NPR), a rádio pública americana: um programa roteirizado, pré-gravado, com histórias dos americanos comuns no então fora de moda formato storytelling. Na apresentação, ele próprio, com voz miúda, íntima, sem impostação. “This American Life” (essa vida americana) contrariava os cânones do rádio tradicional, mas a intuição falou mais alto. Para acalmar os ânimos de uma NPR jornalística, Glass espertamente classificou seu trabalho de “jornalismo narrativo” e foi crescendo em audiência.


Em 2014, uma pauta que não cabia no formato storytelling do programa foi transformada em podcast. Era a história de um jovem de origem paquistanesa condenado à prisão perpétua pelo assassinato da ex-namorada. A sentença tinha por com base, principalmente, o depoimento de uma única testemunha. O rapaz se dizia injustiçado. Sarah Koenig, da equipe de Glass, tomou para si a missão de investigar o caso. Seria ele, de fato, o culpado? “Serial” fez estrondoso sucesso internacional; obteve mais de 400 milhões de downloads e estimulou o boom do áudio no mundo inteiro. Glass ficou milionário. “This American Life” é transmitido por centenas de rádios americanas e mundiais e por inúmeras emissoras de TV. O radialista virou celebridade; hoje dá palestras em “road shows” pagos e lotados.



No Brasil, o paraense Rodrigo Vizeu era um jovem repórter da Folha de S.Paulo muito antenado com os movimentos da mídia internacional, principalmente a americana. Quando o The Washington Post lançou a série “Presidential”, ele pensou em uma versão brasileira. Arriscou. Poderia não dar certo; afinal brasileiros e americanos são tão diferentes! Será? Vizeu não era homem do rádio e, portanto, pouco formatado pelo veículo. Por coragem ou ingenuidade, lançou o “Presidente da Semana”: produção simples, sem grandes arroubos sonoros; um texto intercalado por trechos de entrevistas com especialistas e sons históricos. Os leitores das Folha gostaram e outros foram chegando. A série rapidamente ultrapassou os três milhões de downloads, virou livro e estimulou jornais, revistas e canais de TV a apostar no áudio. Vizeu fez a sua pequena revolução na mídia brasileira. Foi fundamental para a popularização do podcast. Na sequência, lançou o informativo “Café da Manhã” na Folha e decolou na carreira. Hoje é o responsável pelos podcasts originais do Spotify no Brasil. Ivan Mizanzuk é outro “case” brasileiro de sucesso. Com formação técnica (graduação em design gráfico e doutorado em tecnologia), mas alma de escritor, o curitibano era fã do “This American Life” e de outros programas e podcasts narrativos americanos. Em 2015, lançou o “Projeto Humanos” com histórias reais sobre pessoas reais. Foi o primeiro a abraçar o formato no Brasil. A fama veio em 2019, com o “Caso Evandro”, um dos crimes mais chocantes da história do Paraná e do país. Em 2020, "Caso Evandro" já havia ultrapassado os 5 milhões de downloads. Hoje Mizanzuk é um “original Globoplay”. O podcast virou livro, e a série em vídeo está na plataforma dos Marinho. Mizanzuk vai de vento em popa, com novos podcasts e projetos. Resumido: precisamos rever nossas crenças. O público não quer mais do mesmo. Quer ser encantado. Encante-o com novidades e o melhor de si mesmo.


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