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Rússia x Ucrânia x Otan: O xadrez da geopolítica

  • Márcia Detoni
  • 28 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de ago. de 2023

A guerra é execrável; cruel. Civis morrem ou perdem tudo na luta entre titãs. Putin é um líder autocrático, populista, conservador, perigoso para russos e países vizinhos. Biden o chamou de assassino. E quem há de discordar? A Rússia e Putin merecem todas as punições possíveis. Mas é imperioso dizer: o russo não é o único culpado pela crise que se instala na Europa. Geopolítica não é um jogo inocente. Geopolítica é relação de poder entre países em seus espaços geográficos. É construção histórica. É defesa de interesses.


Não podemos esquecer a invasão do Iraque pelos EUA e o Reino Unido em 2003. Bush filho acusou, falsamente, Saddam Hussein de ter armas de destruição em massa. A indústria armamentista, petrolífera e de construção civil americana encheu as burras em oito anos de ocupação. Após uma investigação oficinal sobre a atuação britânica no conflito, que deixou pelo menos 200 mil mortos, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair pediu desculpas, em 2016, ao povo britânico. E ficou por isso. O Iraque permanece arrasado. Uma agressão não justifica a outra. Mas a política externa americana após a queda do muro de Berlim tem dois pesos e duas medidas. EUA e OTAN apoiaram o nacionalismo separatista na antiga Iugoslávia e agora o condenam na Ucrânia. Biden tem sido, de todos os presidentes democratas, o pior.


Infelizmente, encontramos pouco – ou distorcido - contexto sobre crises internacionais na mídia em geral. Mocinhos e bandidos dão um fácil storytelling. Há exceções, claro. Alguns analistas brasileiros e internacionais apontam o erro estratégico dos EUA e da OTAN ao encurralar os russos. Destaco o comentário de Jânio de Freitas na coluna de domingo (27/02) na Folha de S.Paulo, que muito recomendo: “ O comunismo acabou como nação e como movimento, mas os Estados Unidos continuaram contra a Rússia o que era a guerra contra o comunismo” (Para acessar, clique aqui!).


Menciono outros, como Boaventura de Souza Santos e Reginaldo Nasser. Mas quem tem coragem de enfrentar o interesse americano? O certo é que a grande mídia já não fala para tantos e cada vez menos para os jovens. A geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) encontra visões alternativas no YouTube, no podcast e no TikTok. Mano Brown viralizou explicando a crise para a quebrada com analogias entre EUA, OTAN e Rússia e os bacanas do pedaço. E teve animação bem inteligente na rede social chinesa.


O que chama a atenção no áudio é jornalistas perderem audiência para podcasters. Historiadores, sociólogos, cientistas políticos e professores de Relações Internacionais estão fazendo seus próprios programas. Não são gravações atraentes do ponto de vista estético. Falta sonorização. Algumas soam muito faladas e arrastadas, mas são bem mais abrangentes na pauta e mais profundas no conteúdo que a oferta jornalística diária.


Pioneiro no gênero, o Xadrez Verbal, dos historiadores Filipe Figueiredo e Matias Pinto, é o podcast brasileiro sobre política internacional de maior audiência. São mais de 400 mil downloads por mês. E olha que o programa, no ar há seis anos, chega a ter quase seis horas de duração! Figueiredo faz um longo relato sobre os acontecimentos mundiais e depois oferece a minutagem dos blocos para o ouvinte conferir a partir do fato de maior interesse. É bom, é inteligente e tem perspectiva histórica.


Deixo como sugestão o episódio semanal da última sexta-feira (26/02/22), número 283: “Rússia Invade Ucrânia”. Ouça a partir de 03:07:36, quando Figueiredo relata a movimentação de forças bélicas e políticas nos dias que antecedem a invasão da Ucrânia. Aos 00:23:15 você encontrará uma explicação detalhada dos motivos do encontro de Bolsonaro com Putin. Quem aborda o tema é o cientista político e professor das FGV Guilherme Casarões. Vale parar e ouvir.


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